Edição: 1
Editora: Objetiva
ISBN: 8573026979
Ano: 2005
Páginas: 184
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Sinopse: O livro trata da relação de Irene e Rosálio. Ela, uma mulher que chega do Norte e, em São Paulo, se torna uma prostituta com Aids. Ele, um servente de pedreiro que vive na cidade grande.
Os personagens desta obra sobrevivem na obscuridade humana, discretos e anônimos na sua miséria, mas intensos nos seus sonhos de um dia viver, porque não?, como os outros vivem, com alegria e alguma esperança. Irene tem muito a ensinar para Rosálio, e ele também a dizer para Irene - até que a linda guará vermelha consiga alçar voo.
Com um ritmo fascinante, este livro nos captura com sua musicalidade, sua engenhosa arquitetura, sua linguagem retrabalhada à exaustão - e por isso mesmo passível de ser devorada com simplicidade e poesia.
O Voo da Guará Vermelha foi o livro escolhido para leitura de abril do Piquenique Literário de SJC, do qual eu participo. Por ser um livro pequeno, apenas 184 páginas, a leitura foi rápida, mas nem por isso foi menos tensa! rsrsrsrs
Conhecer Irene e Rosálio foi uma experiência única. São personagens reais, que podem sim existir em qualquer grande cidade do Brasil. Irene me cativou com sua vontade de viver e amar, mesmo doente não deixa de trabalhar para dar sustento ao menino que ela deixa com a velha para ser cuidado. Rosálio viajou muito. Saiu de sua terra natal apenas com um baú velho contendo seu tesouro: livros. Livros esses que Rosálio não podia ler pois não sabia ler. Antes de qualquer coisa, Rosálio deixou sua cidade em busca de saber, em busca de aprender a ler.
"Amor, coisa perigosa, um luxo, só para quem pode, Irene não, nunca pôde, água de sal nas feridas, mas o coração insiste, não arrefece, resiste, bombeia amor pelas veias, pode, sim, Irene pode desejar viver de amor, quanto mais lhe doem os golpes dos pés do homem tarado, mas quer que o outro apareça, quer sobreviver, viver."Assim, essas duas almas se encontram: Irene que sabe ler e escrever mas tem pouca vida pra viver, e Rosálio, que tem muita vida pra viver e que aprender a ler e a escrever.
A simplicidade desses personagens nos cativa do começo ao fim do livro. Cada qual com suas características únicas, nos mostra a veracidade de seus atos e anseios. Irene quer conhecer o mundo que Rosálio conheceu, quer ouvir suas histórias e escrevê-las para ela nunca se esquecer. Rosálio encontrou em Irene uma Guará que sabe ler e escrever, que gosta de ouvir sobre sua vida e que pode ensiná-lo a escrever mais do que só a letra R. Ambos iguais, mas tão diferentes....
"Para onde fugiu a humanidade?, sumiu toda?, virou lobisomem, boitatá, alma penada, mula-sem-cabeça?"Com uma sensibilidade absurda, a autora discorre sobre a vida desses personagens de uma forma impossível de não emocionar. A leveza das palavras, o vocabulário simples, interiorano, o desejo por coisas que nem cogitamos sentir falta... Maria Valéria fala sobre o cotidiano de duas pessoas que não puderam ter mais da vida, mas isso não as impediu de viver aquilo que lhe foi dado.
A escrita simples e direta torna a história rica em detalhes e de fácil leitura. A narrativa varia entre primeira e terceira pessoa, acompanhando os personagens juntos e separadamente. Um livro lindo, que vale a pena ler e debater sobre todos os sentimentos que ele trás. Irene e Rosálio são personagens marcantes que, com certeza, vão trazer alegria, dor e tristeza para a sua leitura, mas depois de virada a última página, você vai entender que eles te ensinaram muito sobre você mesmo, sobre a vontade de viver.
"Rosálio sente dó, tanto dó desta mulher!, faz lembrar aquela guará, vermelha, de pernas longas e finas como caniços, que ele uma vez encontrou enredada nos galhos de um espinheiro, as penas ainda mais rubras, tintas de sangue, que ele soltou e quisera curar mas que, descrente, arisca, fugiu dele para, quem sabe?, sangrar até morrer, sozinha, desamparada naquele ermo tão longe dos manges de onde viera."
Sobre a autora:
Maria Valéria Rezende nasceu em 1942, em Santos (SP), onde morou até os 18 anos. Em 1965 entrou para a Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de Santo Agostinho. Sempre se dedicou à educação popular, primeiro na periferia de São Paulo e, a partir de 1972, no Nordeste. Viveu no meio rural de Pernambuco e da Paraíba e, desde 1986, mora em João Pessoa. Já esteve em Angola, Cuba, França e Timor, entre outros países, convidada a falar sobre seus projetos sociais. Maria Valéria estreou na ficção em 2001, com o livro de contos Vasto mundo. Depois, escreveu livros infanto-juvenis e o elogiado romance O Voo da guará vermelha. A autora, que costura referências das culturas erudita e popular, “é uma revelação em nossas letras”, como disse Frei Betto.
A experiência de Maria Valéria com a dor do analfabetismo e também com a educação de jovens e adultos foi o mote para O voo da guará vermelho. “Uma personagem se apaixona por aprender a ler e a outra descobre um sentido para sua vida, ensinando”. A autora constrói no livro o encontro de Irene, uma nordestina que vira prostituta em São Paulo, com Rosálio, um servente pedreiro. Dona de uma escrita inventiva e conhecedora da realidade de “Rosálios” e “Irenes”, Maria Valéria fez uma obra poética e forte, que dispensa trivialidades.
Nos contos de Vasto mundo, seu primeiro livro, Maria Valéria apresenta “causos” do povo nordestino, em que trata de amores e dores, da geografia local e da crença fácil no que transcende o explicável. A autora também escreve para crianças e jovens, tanto poemas quanto histórias ficcionais, em que aborda temas como o medo, a lealdade e as relações sociais, sempre com humor e criatividade.
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