Resenha: Fique Comigo - Ayòbámi Adébáyò

09 agosto 2019


Edição: 1
Editora: TAG - Experiências Literárias & HarperCollins Brasil
ISBN: 9788595083196
Ano: 2018
Páginas: 256
Tradutor: Marina Vargas
Skoob
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Sinopse: Yejide espera por um milagre. Um filho é tudo que o seu marido deseja, tudo que sua sogra consegue pensar, mas a gravidez parece para ela uma realidade distante. Mas, quando a família insiste que seu marido aceite uma nova esposa, Yejide chega ao limite.
Tendo como pano de fundo a turbulência política e social da Nigéria dos anos 1980, Fique comigo é um retrato da fragilidade do amor matrimonial, do rompimento de uma família, do poder do luto e dos laços arrebatadores da maternidade. Uma história sobre as tentativas desesperadas que fazemos para salvar nós mesmos, e aqueles que amamos, do sofrimento.


Mais um livro lido para debate no Piquenique Literário de SJC. Fique Comigo foi o primeiro livro que recebi quando comecei a assinar a TAG Inéditos no ano passado. Ficou na minha estante só esperando uma oportunidade para ser lido e, quando foi escolhido para leitura no Piquenique, fiquei muito feliz porque eu já o tinha, desse modo, não precisei comprar! rsrsrsrsrr
Fique Comigo foi escolhido por causa da FLIP. A autora, Ayòbámi Adébáyò veio para o festival e fiquei imensamente feliz em conhecê-la e conseguir autografar meu exemplar. Foi uma experiência única e, mesmo sem ainda ter lido seu livro, eu a admirei; imagina agora depois de finalizar essa leitura? Quero ler todos demais livros que ela vier a lançar.
❝Amei Yejide desde o primeiro momento. Não tenho duvida. Mas há coisas que nem o amor é capaz de fazer. Antes de me casar, eu acreditava que o amor podia tudo. Porém, logo descobri que ele não era capaz de suportar o peso de quatro anos sem filhos. Quando o fardo é pesado demais e o carregamos por muito tempo, até mesmo o amor se verga, racha, fica prestes a se despedaçar, e às vezes se despedaça de fato. Mas, mesmo quando está em mil pedaços aos nossos pés, não significa que não seja mais amor❞.
Fique Comigo, como a sinopse mesmo diz, é um livro de tentativas. Também é ima bomba relógio: em um momento você pode estar com raiva da família de Akin (eu quis dar uns tapas na mãe dele por diversas vezes), no outro você está chorando de desespero com Yejide.
Não vou descrever um pouco da história porque não consigo. É sério. Eu não consigo descrever toda dor e sofrimento de Yejide por não conseguir engravidar, por engravidar e perder. A escrita da autora trás esse sofrimento para o leitor, nos deixa sem ar com tantas tentativas e erros.
Impossível não querer pegar Yejide no colo e dizer a ela que vai ficar tudo bem. Impossível não sentir raiva e ao mesmo tempo, se sensibilizar com Akin, seu marido.
❝Esta vida não é difícil, Yejide. Se não pode ter filhos, basta permitir que meu Akin tenha filhos com Funmi. Veja, não estamos pedindo que você deixe de ocupar seu lugar na vida dele, estamos apenas dizendo que deveria chegar para o lado para que outra pessoa possa sentar❞.
Fique Comigo é dividido em 4 partes e em todas elas, temos a mistura de passado e presente. Yejide e Akin nos narram sua história e como chegaram ao ponto onde o livro se inicia - com Yejide voltando para a cidade onde deixou seu marido.
Mesmo sendo relativamente pequeno, este livro trás cargas emocionais intensas e poderosas, capazes de nos desestabilizar. A autora consegue transmitir com poucas palavras todos os sentimentos contidos nas ações dos personagens, deixando-nos aflitos, curiosos e desejosos de um final feliz.
❝As coisas que importam estão dentro de mim, encerradas em meu peito como em um túmulo, onde permanecerão para sempre, meu baú de tesouros sepultados❞.
A história se passa na Nigéria, em meados de 1980, onde a Ditadura Militar comandava o país. Além de lidar com todos os conflitos familiares e pessoais, os personagens ainda têm de lidar com a política nada estável do país, e mesmo que por poucas vezes, sentimos o medo nos personagens pela instabilidade política.
A cultura do país também me deixou, por diversas vezes, irritada. Como feminista que sou, não consigo me ver ajoelhando perante meu marido quando viermos a receber visitas em casa; ou não poder respondê-lo se o mesmo fizer algo que não me agrade. Imagine então viver na poligamia? Meu Senhor! Morro ou mato um! rsrsrsrs
Deixando de lado a brincadeira, o choque de cultura é real. As mulheres tem algum "benefício", mas o marido é o dono, o senhor delas. Isso me deixa com muita raiva, é incrível como em pleno século XXI ainda tenhamos que passar por algo assim. Injusto e doentio são palavras que me vêem a mente sempre que me deparo com culturas que exaltam o homem e diminuem a mulher.
❝ Hoje digo a mim mesma que foi por isso que me esforcei para aceitar cada nova humilhação: para ter alguém que procurasse por mim caso eu desaparecesse.❞
Por fim, enalteço a edição da TAG com a Harper Collins: capa linda, edição incrível sem erros aparentes, diagramação bem feita, qualidade que poucas editoras possem. Por isso assino vcs. Obrigada! <3
Só indico, pessoal. Ayòbámi Adébáyò, ou Yoyo como passei a chamá-la por não conseguir pronunciar seu nome corretamente, é leitura obrigatória para todos que gostam de um bom romance que possui a vida real como plano de fundo. Nada dura para sempre, ainda mais quando escondemos quem verdadeiramente somos.



Sobre a autora:



Ayòbámi Adébáyò é uma escritora nigeriana nascida em Lagos.
Suas histórias apareceram em várias revistas e antologias, e uma delas foi altamente elogiada na competição de contos da Commonwealth de 2009. Possui bacharelado e mestrado em Literature in English pela Obafemi Awolowo University, Ife. Além de mestrado em escrita criativa da Universidade de East Anglia, onde foi premiada com uma bolsa internacional de escrita criativa. Ayòbámi recebeu bolsas e residências da Ledig House, Hedgebrook, Threads, Ebedi Hills e Ox-Bow.





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