Edição: 1
Editora: Faro Editorial
ISBN: 9788595810600
Ano: 2019
Páginas: 160
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Livro cedido em parceria com a editora
Sinopse: "Um dos livros mais francos e radicais sobre a vida feminina, de todas as origens, em todas as partes do mundo.” THE GUARDIAN. Esta ficção é baseada no relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em uma prisão no Egito. Sua história chega até a autora, que resolve conhecer Firdaus para entender o que levou aquela prisioneira a um ponto tão crítico de sua existência. “Deixe-me falar. Não me interrompa. Não tenho tempo para ouvir você”, começa Firdaus. E ela prossegue contando sobre como foi crescer na miséria, sua mutilação genital, ser violada por membros da família, casar ainda adolescente com um homem muito mais velho, ser espancada frequentemente, e ter de se prostituir... até que, num ato de rebeldia, reuniu coragem para matar um de seus agressores, levando-a à prisão. Esse relato é um implacável desafio a nossa sociedade. Fala de uma vida desprovida de escolhas, mas que em meio ao desespero encontra caminhos. E, por mais sombrio que isso possa parecer, sua narrativa nos convida a experimentar um pouco dessa liberdade encorajadora através das transformações internas de Firdaus. O que acontece com ela é o despertar feminista de uma mulher. A AUTORA: NAWAL EL SAADAWI, 87, é uma escritora, ativista, médica e psiquiatra feminista egípcia. Saadawi foi presa pelo presidente Anwar al-Sadat em 1981 por supostos “crimes contra o Estado”. Ela escreveu muitos livros sobre as mulheres no Islã, e se dedica, em especial, à luta contra a prática da mutilação genital feminina no Oriente Médio. Nawal é tratada como “a Simone de Beauvoir do mundo árabe”. Seus livros já foram traduzidos para mais de 28 idiomas e são adotados em universidades do mundo inteiro. Seus discursos atualmente se concentram na crítica à tentativa de normalizar o que ela considera a opressão aos costumes das mulheres na África e Oriente Médio. Depois de quatro décadas da revolução islâmica, muitos já consideram normais as restrições aplicadas às mulheres, incluindo as próprias mulheres. “A Simone de Beauvoir do mundo árabe”. REUTERS
A Mulher com olhos de Fogo é um relado baseado em uma história real. Logo no começo do livro, a autora nos conta que conheceu Firdaus na prisão de Qanatir enquanto pesquisava sobre neurose em mulheres egípcias. Nawal nos conta como foi difícil conseguir falar com Firdaus, pois a mesma se recusava a falar com as pessoas e até mesmo a pedir clemencia por sua vida. Firdaus foi sentenciada a morte por matar um homem e, em suas últimas horas de vida, resolveu contar sua história para Nawal. O livro é dividido em três partes: a primeira e a última é narrada pela autora, e a segunda parte é narrada por Firdaus em um ritmo único, cheio de sentimentos, ódio, dor e descobertas.
"Eu sei porque eles me temem tanto. Eu fui a única mulher que arrancou a máscara, e eu expus a face da feia realidade deles. Eles me condenaram à morte não porque matei um homem - milhares de pessoas são mortas todos os dias -, mas porque eles têm medo de me deixar viver."A história de Firdaus é chocante. Eu parei a leitura por diversas vezes para tomar um ar e digerir tudo o que lia. Todos os homens que passaram pela vida de Firdaus lhe fizeram algum mau. Sua história pode ser comparada a de outras mulheres, mesmo sendo uma história da década de 70, o relato de Firdaus se encaixa na nossa atualidade onde o feminicídio tem ganhado mais espaço e ameaçado mulheres de todo o mundo. Firdaus é um guerreira, disso não tenho dúvida. Passar pelas coisas que ela passou e mesmo assim continuar vivendo e tentando ser alguém "respeitável" é lamentável. Todas as mulheres merecem ser "respeitáveis" independente de sua profissão.
"Eu tomei consciência do fato de que odiava os homens, mas por longos anos mantive esse segredo cuidadosamente escondido. Os homens que eu mais odiava eram aqueles que tentavam me dar conselhos, ou diziam que queria me resgatar da vida que eu levava. Eu costuma odiá-los mais do que aos outros porque eles pensavam que eram melhores que eu, e que podiam me ajudar a mudar de vida. Eles se enxergavam como algum tipo de heróis magnânimos - um papel que não fizeram nenhuma questão de desempenhar em outras circunstâncias."Ainda estou digerindo a história de Firdaus. Para mim é muito difícil acompanhar tais relatos. Fico indignada como ninguém vê o mal que fazem para essas mulheres, como a sociedade é tão cega para esse tipo de comportamento que não vê nada demais em um homem bater em uma mulher. Uma parte que me deixou extremamente irada foi a dos abusos que Firdaus sofreu de seu tio na infância. ELE ERA UM HOMEM RELIGIOSO!!!!!! Me arrepio só de lembrar.
"Sabia que os homens forçavam as mulheres a vender seus corpos por um preço, e que o corpo de valor mais baixo era o da esposa."A narrativa de Firdaus é seca, sem demonstração de sentimentos desnecessários. Acredito que a autora quis mostrar que o sentimentalismo de Firdaus havia se esgotado depois de tanto sofrimento. Mesmo assim, senti empatia com sua história e tomei para mim suas dores. Por se tratar de um relado de uma história real, seu conteúdo fere, mas é necessário.
"Ser uma prostituta de sucesso era melhor do que ser uma santa iludida. Todas as mulheres são vítimas de embuste. Os homens enganam as mulheres e as punem por terem sido enganadas, forçam-nas a se degradas e as punem por chegarem tão baixo, prendem-nas ao casamento e então as castigam por toda vida com serviços humilhantes, insultos e surras.Como sempre, a Faro Editorial arrasa em suas edições. A capa é linda e a diagramação simples mas sem erros de revisão, não deixa a desejar.
Agora eu percebia que, de todas as mulheres, as prostitutas eram as menos iludidas. Que o casamento era um sistema que representava o mais cruel sofrimento para as mulheres."
Infelizmente a história é triste e, mesmo querendo muito, não temos um final feliz. Mas podemos ajudar outras mulheres que passam por situações parecidas: seja a confidente de alguém, ofereça ajuda, tenha empatia. Nós mulheres não precisamos nos odiar, precisamos nos unir por um bem maior - nossa vida.
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