Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535931846
Ano: 2018
Páginas: 152
Skoob
Compre AQUI / Ebook Kindle
Sinopse: Até que ponto é possível se esconder de si mesmo? Neste livro, uma tragédia familiar desestrutura a vida burguesa de um homossexual no armário. Um pequeno estudo sobre a força irresistível da sexualidade.
Em Cloro, Constantino é um defunto autor. No limbo em que se encontra, ele rememora fatos decisivos de sua vida — até a morte inesperada, aos cinquenta anos de idade. Advogado bem estabelecido em São Paulo, aprendeu na infância que “ser bicha não era bom”. Sempre escondeu seu desejo. Desde cedo, incorporou um personagem heterossexual. Casou-se com Débora, sua namorada de adolescência, e foi pai de dois filhos. Um acontecimento trágico rompe o frágil equilíbrio em que se mantinha, e ele é confrontado com sua homossexualidade. Passa a levar uma vida dupla. Encontra-se com homens e apaixona-se por Emílio, diplomata que conhece em Brasília. Pela voz de Constantino e depoimentos de seus familiares e amigos, Alexandre Vidal Porto oferece uma narrativa lúcida e necessária para os tempos atuais — quando ser você mesmo é um ato de coragem.
Mais um livro lido para o Piquenique Literário que participo aqui na minha cidade, São José dos Campos. O mês de junho foi o mês do Orgulho LGBTQAI+, por esse motivo o livro escolhido para debate foi um que falasse sobre o assunto.
Confesso que Cloro não foi minha escolha para leitura, mas ganhou a votação e claro, o li. O livro é ok. Nem tão bom quanto poderia ser, nem tão ruim que não possa ser lido.
"Durante a maior parte do tempo, fui um cara que negou a própria natureza, que extirpou a realidade para não deformar a vida, para que ela fosse da forma que ele queria. Eu tinha um carro na garagem, mas não o usei com medo da velocidade. Foi um desperdício."A história de Constantino nos sensibiliza e nos trás questões intermináveis sobre quem somos e o que estamos fazendo para conhecermos a nós mesmos profundamente. Desde pequeno, Tino sabia que era diferente, mas em sua infância, ser homossexual era errado. Tino então, resolve que será um homem de bem, pai de família e que guardará esse sentimento dentro de si para sempre. Só que uma tragédia acontece e seu casamento que já não estava bem, acaba desabando de vez e Tino resolve dar uma chance para sua sexualidade.
Assim, passa a ter uma vida dupla: enquanto em São Paulo é pai de família, homem de bem, advogado e ótimo esposo, em Brasília é o amante ardente de Emílio, por quem acaba se apaixonando.
O detalhe mais sórdido dessa história é que Tino nos conta os principais momentos de sua vida depois que morre. Sim, esse livro é narrado em primeira pessoa pelo defunto. Tino está no limbo, esperando na escuridão pelo que virá depois e, para passar o tempo - ou sabe-se lá o que mais - resolve discorrer sobre sua vida, contando a nós, leitores, o que ninguém jamais soube - a não ser seus amantes.
"É difícil ser espontâneo quando se tem medo. Como ser íntimo quando a intimidade é o que mais apavora você?"A narrativa do personagem é rápida e sucinta. Sua história é breve com poucos pormenores. Consegui me conectar com Tino logo nas primeiras páginas, sua história me deixou curiosa para saber mais. Em momento nenhum senti que a leitura ficou enfadonha ou arrastada, mas poderia ser melhor. Senti falta de aprofundamento maior na época de sua infância, de acordo com o livro, Tino abafou seus sentimentos homossexuais por causa de um garoto que o chamou de "bicha". Não estou me desfazendo da dor do personagem, mas achei sua desculpa supérflua perto do que pessoas reais passam diariamente.
Mesmo assim, entendo o contexto criado pelo autor: necessário em tempos nos quais desejos são reprimidos e personagens são criados para que se viva de acordo com o que uma sociedade conservadora impõe.
Outro ponto da história que me tocou foi a morte de seu filho André. Sua morte nunca foi resolvida e abaixo segue um quote que, mais uma vez, nos remete aos tempos atuais:
"Quanto menos armas, menos tiro; quanto menos tiro, menos mortos. É simples assim."Como um todo, a leitura vale a pena. Tino é um personagem carismático que consegue passar o que sente para o leitor. O autor soube dosar as partes sentimentais do livro, causando simpatia nos leitores.
Além da narrativa de Tino, temos também, nas últimas páginas, a narrativa de pessoas que fizeram parte de sua vida: seu cunhado, sua esposa e Emílio. Acredito que essa parte tenha sido essencial para vermos Tino pelos olhos das pessoas ao seu redor.
Do mais, indico sim a leitura. É um contexto que deve ser discutido e não ignorado.
Sobre o autor:
Alexandre Vidal Porto é escritor, diplomata e ativista de direitos humanos.
Passou a infância em São Paulo, a adolescência em Fortaleza, e viveu em Brasília, Nova York, Santiago, Boston, Washington, Cidade do México e Tóquio.
É colunista do jornal Folha de S. Paulo, mestre em direito pela Universidade de Harvard e autor de dois romances: Matias na cidade (Record, 2005) e Sergio Y. vai à América (Companhia das Letras, 2014), vencedor do Prêmio Paraná de Literatura).
No momento, vive em São Paulo e trabalha em seu terceiro romance.
Nossa, adorei esse tema forte! Sem dúvidas vou ler, ótima resenha!
ResponderExcluirParaíso Feminino