Resenha: Se a Rua Beale Falasse - James Baldwin

07 junho 2019

Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 8535931945
Ano: 2019
Páginas: 224
Tradutor: Jorio Dauster

Skoob
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Sinopse: Lançado em 1974, o quinto romance de James Baldwin narra os esforços de Tish para provar a inocência de Fonny, seu noivo, preso injustamente. Livro que inspirou o filme homônimo dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar por Moonlight. Tish tem dezenove anos quando descobre que está grávida de Fonny, de 22. A sólida história de amor dos dois é interrompida bruscamente quando o rapaz é acusado de ter estuprado uma porto-riquenha, embora não haja nenhuma prova que o incrimine. Convicta da honestidade do noivo, Tish mobiliza sua família e advogados na tentativa de libertá-lo da prisão. Se a rua Beale falasse é um romance comovente que tem o Harlem da década de 1970 como pano de fundo. Ao revelar as incertezas do futuro, a trama joga luz sobre o desespero, a tristeza e a esperança trazidos a reboque de uma sentença anunciada em um país onde a discriminação racial está profundamente arraigada no cotidiano. Esta edição tem tradução de Jorio Dauster e inclui posfácio de Márcio Macedo.



"É um milagre saber que alguém te ama."
Mais um livro lido para discussão no Piquenique Literário aqui de São José dos Campos. Participar desse Piquenique tem me rendido ótimas leituras, e o melhor de tudo: me tirado da minha zana de conforto.
Se a Rua Beale Falasse foi um desses livros. Apesar de ter gostado muito da sinopse e ser um livro que eu teria na estante, não sei se o leria tão rápido se não fosse pelo o Piquenique. A história de James Baldwin nos leva ao Harlem da década de 70, choca, contagia e encanta.

A sinopse conta muito sobre a história, mas não passa os sentimentos que o livro nos trás. Eu ainda estou ansiosa e inquieta, com a sensação de que não li tudo, que tem mais, porque uma história como a de Tish e Fonny não pode acabar de uma hora para outra. Mas é assim que acaba: de repente, sem "algum tempo depois", sem "viveram felizes para sempre".
"Nem o amor nem o terror deixam a gente cega: só a indiferença faz isso."
Baldwin tem uma escrita sucinta e descritiva. Suas descrições são simples e ao mesmo tempo complexas, pois trata-se de sentimentos e ações. A narrativa é me primeira pessoa; Tish é a personagem onipresente que nos conta tudo o que acontece a partir do momento que descobre sua gravidez e Fonny já está preso. Baldwin sendo homem, conseguiu trazer um olhar feminino para a trama, mas não deixou de ter suas impressões masculinas. Apesar de sua escrita poética e fluída, ele ainda é um homem escrevendo como mulher e romantizou a protagonista que poderia sim, ter sido melhor descrita e mais forte do que realmente foi.

Se a Rua Beale Falasse foi publicado originalmente em 1974 e republicado em 2019 pela Companhia das Letras por causa do filme homônimo que foi lançado neste ano. Ainda não assisti ao filme, mas vou fazê-lo assim que possível.
James Baldwin nos mostra como é ser negro em um país racista e por diversas vezes, me peguei com raiva e pensando em como alguém pode ser tão mau com outra pessoa, outro ser humano, independente da cor. Mas aí me lembro que estamos vivendo isso nos dias atuais e entendo o que ele quis passar, mas não aceito. Este livro me mostrou que pouca coisa mudou nesses 45 anos que o mesmo foi publicado. O assunto ainda é necessário e urgente.
"Na cadeia eu senti na pele o que o Malcom e aqueles outros irmãos vivem falando. O homem branco é um demônio. Com certeza não é humano. Algumas das coisas que eu vi, cara, vão me dar pesadelo até o dia em que eu morrer."
Acompanhar Tish durante a leitura foi tenso, agonizante, dolorido e incrivelmente amoroso. Esse romance não é só flores, aqui o leitor vai encontrar dificuldades reais e urgentes, vai descobrir que é necessário ter coragem e paixão para amar. Que é preciso ter esperança e nunca desistir.

Enfim, Se a Rua Beale Falasse é um livro extremamente interessante, bem escrito e real. Mesmo com o tema base sendo o preconceito, o livro não deixou outros assuntos de lado, tem várias diversificações como a violência contra a mulher, empoderamento feminino, estrutura familiar entre outros. Um livro lindo que trás realidade, justiça, beleza e tristeza. Que nos faz pensar e desejar um futuro melhor. Um clássico que merece ler lido e apreciado.
"Agora o Fonny sabia por que estava lá, por que estava onde estava - agora ousava olhar ao redor. Não estava ali por nada que tivesse feito. Sempre soube disso, mas agora sabia de um jeito diferente. (...) Muito bem, entendi. Filhos da puta. Não vão me enforcar."


Sobre o autor:


James Baldwin foi o primeiro escritor a dizer aos brancos o que os negros americanos pensavam e sentiam. Chegou no auge de sua fama durante a luta dos direitos civis no início da década de 60. Tornou-se mais famosos pelos ensaios do que pelos romances e peças teatrais, mas apesar disso queria se tornar um ficcionista, considerando seus ensaios um trabalho menor. Nos primeiros livros estão as melhores amostras do seu talento: Go tell it on the mountain (1953), Giovanni's room (1956) e Another country (1962). os dois últimos tornaram-no famoso como o pioneiro de uma nova liberdade sexual. Apesar de escrever e estudar sobre as correspondências entre medos sexuais e raciais, Baldwin era basicamente um puritano que professava a primazia do autoconhecimento em todas as relações humanas.


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